BLOG DA SELVVVA

Selvvva em casa de mãe

Uma casa de portões brancos na zona oeste de São Paulo. Da rua já é possível enxergar o verde que ela abriga. Canteiros, vasos no chão e pendentes cheios das mais variadas espécies. Há 35 anos ali é a casa da Marta e, por 26 anos, foi da Luísa também. Com café coado e muita coisa para contar e ensinar, o #estufa foi recebido por elas, mãe e filha, e pela neta Sofia de 8 meses – completando as três gerações de mulheres da família Amoroso.

Tema central desse encontro, as plantas são paixão compartilhada entre elas. E esse amor vem sendo passado de mãe para a filha há anos. Na casa em que cresceu, no interior de São Paulo, Marta via sua mãe cultivar árvores no quintal, plantas dentro de casa e um canteiro de gerânio que dava o maior trabalho, mas tinha um cheiro delicioso! As plantas eram tão protagonistas que teve até uma reforma no muro para acomodar melhor as jiboias. Era um cuidado diário e feito de perto. Sua relação botânica foi nascendo dali, ao mesmo tempo que via brotar as sementes que plantava com os irmãos.

Já para Luísa esse amor chegou mais tarde. Apesar de estar rodeada desde pequena, foi só quando saiu de casa para morar com o namorado que ela entendeu a falta que as plantas fazem. “Sempre tive a folga de ter planta em casa e minha mãe cuidar, então eu não precisava me preocupar. Quando eu saí, percebi que casa gostosa tinha que ter planta. Ela me deu algumas espécies e eu não sabia como cuidar de nenhuma. Lembro dessa aflição e de recorrer muito a ela para me ajudar, ou eu ia matar todas”, conta Luísa, que é complementada por Marta: “o começo é um embate muito pessoal, da gente com aquela coisa que é uma planta. E não passa por técnica, por uma bula. É achar a medida certa para cada uma. E dá errado também! Não tem teoria que chegue aos pés da prática”.

Já a pequena Sofia, desde que começou a engatinhar e alcançar os vasos, vem mostrando o seu interesse por plantas de uma forma bem peculiar: arrancando pedaços. “Todas as plantas que alcança, ela arranca folhas e quer comer”.

PLANTAS POR TODOS OS LADOS

Depois da agradável conversa na sala, chegou a hora de conhecer o famoso jardim da Marta, uma verdadeira #selvvvademãe. No caminho até os fundos, vimos espécies espalhadas em vários cantinhos da casa. A orquídea que veio do sítio e está na família há cinco anos, uma garrafa de vidro no armário da cozinha que agora abriga uma jiboia, e as canecas azuis na janela que viraram casas para o coração emaranhado e uma ripsális. “Isso é a cara da minha mãe, essas plantas nos cantinhos. Não é exatamente decoração. Tem mais a ver com o que a planta gosta do que com onde fica bonito. Ela gostou da luz, então é aqui que ela vai ficar. Elas que mandam!”, confidencia Luísa.

As plantinhas “perdidas” em todos os cantos da casa: o filodendro, o coração emaranhado e a ripsális ocupando espaços inusitados na cozinha.

Finalmente chegamos ao jardim externo. De cara, Marta – que é antropóloga e atualmente tem sua pesquisa voltada para paisagens e vegetação amazônicas – nos apresenta ao “peão de feiticeiro”, uma planta xamânica cuja semente ela trouxe da Amazônia. Junto a ele, orégano, alecrim, açafrão-da-terra (que compõe as receitas da casa e que ela adora dar em pedacinhos como presente), gengibre, jabuticabeira, babosa, violetas, orquídeas, chuva-de-ouro, variações de aspargo, batata-doce, flor-de-maio, malva, pitangueira, abacateiro, mangueira, uma begônia e outras incontáveis espécies. “Se procurar, com certeza descobre alguma nova escondida no meio de tantas outras e mais uma turma perto do tanque. Aqui tem de tudo. Experimento com araucária e outras coisas que fui plantando. Muita coisa nasceu de jogar caroço na terra, dos passarinhos espalharem. A maioria das orquídeas eu comprei ou ganhei. Algumas plantas eu peguei na rua. Tem até uma que eu trouxe a mudinha da Europa, quando estava em um congresso, e meus amigos brincaram que eu seria presa por trazer. Também trouxe sementes do horto de Buenos Aires”, conta, achando graça.

À esquerda, uma araucária crescendo junto a outras espécies; e à direita, a “peão de feiticeiro”, planta xamânica que Marta trouxe da Amazônia.

Num dos cantinhos do quintal, a polêmica mudinha que Marta trouxe do congresso na Europa.

 A jabuticabeira, inclusive, ocupa hoje o lugar que pertencia a uma amoreira enorme, que se espalhava por todo o quintal e que nasceu por ação dos passarinhos. Incomodada com a sujeira que a árvore fazia e contrariando os filhos, Marta resolveu cortar o pé de amora. Só não sabia a saudade que sentiria dela: “fez uma falta insuportável. Acho que fiquei uma noite sem dormir. Fez muita diferença”.

CUIDAR PARA DESCANSAR

Os cuidados da Marta com as plantas vão desde fertilizantes – como o bokashi, um adubo orgânico oriental que ela usa em todas as espécies, inclusive nas orquídeas – até segredinhos caseiros que ela acha graça em mostrar: “jogo restos de mamão para adubar. Fica feio, mas tem biodiversidade”, ri.

Cascas de ovos e restos de mamão são alguns dos segredinhos que a Marta usa para adubar suas espécies.

“Ligada no 220”, como entrega Luísa, Marta sempre foi muito ativa, mas dedica seu tempo livre ao cuidado das plantas. Entre podar, molhar, adubar e contemplar, para ela, cuidar é descansar. “Quando eu estou cuidando delas eu percebo que preciso cuidar de mim. Tem esse lugar, essa sensação de que você está sendo cuidado. E você sai alterado para o bem”.

A árvore cheia de orquídeas que a Marta foi encaixando aos poucos no quintal.

DE MÃE PARA FILHA

Foi a Marta quem deu as primeiras plantas para a casa da Luísa: orquídeas, suculentas e uma arvorezinha em que ela apoia várias espécies, bem parecida com a que tem na casa da mãe. A Luísa também já deu algumas para Marta, principalmente como presente de dia das mães – e duas vezes seguidas a mesma orquídea.

Além dos primeiros exemplares e da vontade de viver no meio de tantas plantas, Marta também transmitiu para a Luísa alguns ensinamentos. Um deles foi a água de fumo. Para Luísa, ex-fumante, é um segredo infalível. Ela pega um cigarro comum, desses que vêm em maço e que você compra em qualquer banca de revista, e deixa dentro de uma garrafa pet cheia de água por dois dias. A água amarela e fedida é ótima para espantar bichinhos e pragas.

A Luísa pegou tanto gosto que, hoje em dia, tem setores de cuidados para as plantas em casa. “Primeiro eu coloco a planta onde eu quero e onde fica bonito. Se não der certo, eu tento outros lugares. Se também não der certo, eu levo para a lavanderia – que eu chamo de UTI por ser o ambiente mais fresquinho e sombreado. Se ela não sobreviver ali, é hora de recorrer à minha mãe. Às vezes ela pega a planta lá e traz aqui para a casa dela”.

DA FOLHA PARA O PAPEL

A relação da Luísa com as plantas foi da decoração em casa ao trabalho. Arquiteta de formação, ela começou a se interessar por gravuras e aquarela. Há alguns anos, iniciou uma pesquisa com mapas afetivos: andar na rua, fazer trajetos, coletar objetos que cruzaram seu caminho e que pudessem entrar numa colagem, trazer informações de vivência e uma marca do percurso. “E as folhas estão em todo lugar, além de serem fáceis de guardar na bolsa e levar com você”.

As folhas do caminho carimbadas no papel agora levam o toque aquarelado da Luísa.

As folhas caídas no chão se tornaram carimbos que depois foram sendo combinados com técnicas de gravura, aquarela, colagens e outras intervenções. Hoje a Luísa vive de ilustrações, que estão em capas de livros, revistas, cartões de visitas, zines e gravuras colecionáveis. Para conhecer mais do seu trabalho, acesse o perfil no instagram: @aluisaamoroso.

Um dos trabalhos da Luísa, que mistura gravura, aquarela e colagens.

A relação de Marta, Luísa e Sofia – como muitas outras histórias de mães, filhas e seus jardins cheios de memória afetiva e aconchego – foi uma das que nos inspirou a criar a nossa campanha de Dia das Mães. E esta matéria é a nossa homenagem à figura materna em todas as suas representações.

Confira aqui a ação especial que criamos para presentear e deixar a selvvvademãe ainda mais aconchegante.

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